Os medicamentos isentos de prescrição (MIP) compõem uma categoria de medicamentos com uma característica singular: por não necessitarem de prescrição, o usuário geralmente os utiliza sem qualquer orientação inicial de algum profissional prescritor.
Além disso, evidencia-se o crescente estabelecimento de uma cultura popular de que os MIP são produtos sem risco à saúde. Esses fatores levam ao aumento da utilização irracional dessa categoria de medicamentos.
É nesse cenário que o papel do farmacêutico, enquanto profissional de saúde
responsável pela orientação da utilização correta dos medicamentos, faz-se
fundamental. Os MIP compõem uma categoria de medicamentos na qual a intervenção farmacêutica é o principal fator para o sucesso e a segurança da terapia.
Outro marco de suma importância que aumenta a responsabilidade do farmacêutico é a consolidação da farmácia como estabelecimento de saúde, que foi coroado com êxito pela publicação da RDC nº 44/2009, a qual dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas de dispensação, comercialização de produtos e prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e pelas Instruções Normativas nº 9 e nº 10, que tratam respectivamente sobre o comércio de produtos e a disposição de medicamentos isentos de prescrição em local restrito.
O que são os MIP?
Os medicamentos isentos de prescrição (MIP), também chamados de medicamentos de venda livre ou OTC (sigla inglesa de “over the counter”, cuja
tradução literal é “sobre o balcão”), são, segundo o Ministério da Saúde, “aqueles cuja dispensação não requerem autorização, ou seja, receita expedida por profissional”.
Geralmente, os MIP são indicados para doenças com alta morbidade e baixa gravidade e são considerados de elevada segurança de uso, eficácia comprovada cientificamente ou de uso tradicional reconhecido, de fácil utilização e baixo risco de abuso, como, por exemplo, os antiácidos, os analgésicos e os antitérmicos.
Dispensação
Os MIP podem ser vendidos, comprados, solicitados, fornecidos, dispensados ou doados sem obrigatoriedade de nenhuma formalização de documento emitido por profissional legalmente habilitado para prescrevê-lo.
O seu uso tende a ser aceito hoje pelos órgãos sanitários como parte integrante do sistema de saúde. O fácil acesso aos MIP torna-os diretamente atrelados à automedicação, prática comum, devida à dificuldade de atendimento médico (demora na marcação de consultas médicas, atendimento precário em
prontos-socorros, etc.).
A dispensação de medicamentos, isentos ou não de prescrição, deve ser entendida como um processo de atenção à saúde. Quando a dispensação é acompanhada de orientação adequada, os riscos relativos a medicamentos diminuem, contribuindo para que os estabelecimentos farmacêuticos sejam verdadeiros estabelecimentos de saúde.
Automedicação
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a automedicação responsável como “prática dos indivíduos em tratar seus próprios sintomas e males menores com medicamentos aprovados e disponíveis sem a prescrição médica e que são seguros quando usados segundo as instruções” e a recomenda como forma de desonerar o sistema público de saúde.
A automedicação é uma realidade evidente, devido às carências e hábitos da população, à propaganda abusiva de medicamentos, aos medicamentos colocados à disposição do consumidor (autoatendimento) e também pelo fato do usuário, muitas vezes, não solicitar orientação do profissional farmacêutico quando vai à farmácia ou drogaria.
O papel do farmacêutico
Todos os países, independentemente de seu grau de desenvolvimento, precisam de meios para assegurar o uso racional e custo-efetividade dos medicamentos.
Nesse sentido, os farmacêuticos podem desempenhar um papel-chave no atendimento das necessidades do indivíduo e da sociedade. Esses profissionais devem ampliar sua responsabilidade para além dos produtos, das estruturas químicas e da farmacologia, envolvendo os pacientes e suas condições médicas.
Para que ocorra o uso correto, seguro e racional de medicamentos, os farmacêuticos precisam se conscientizar da importância dos MIP, pois essa classe terapêutica está sob sua responsabilidade e deve ser usada como a principal ferramenta para tratamentos de sintomas menores de baixa gravidade, passíveis de orientação farmacêutica e de automedicação.
Assistência farmacêutica
Como todos os medicamentos, os MIP também oferecem riscos à saúde quando utilizados de forma inadequada e sem a orientação do profissional farmacêutico.
Inicialmente, os pacientes podem parecer resistentes às orientações sobre MIP; porém, conforme os farmacêuticos demonstrarem interesse por seus problemas, muitos pacientes dedicarão mais tempo à aquisição desses medicamentos.
No momento em que o paciente adquire os MIP, o farmacêutico deve realizar entrevista e verificar, entre outras coisas:
- quais medicamentos estão sendo solicitados;
- razão pela qual os medicamentos estão sendo solicitados;
- idade do paciente;
- duração dos sintomas;
- situações que poderiam contraindicar determinados MIP;
- uso concomitante de outros medicamentos;
- uso prévio de outros medicamentos para o mesmo sintoma apresentado;
- histórico de uso de álcool;
- histórico médico.
Após análise crítica dos dados, o farmacêutico pode chegar a uma das conclusões:
a) O paciente necessita atendimento médico. Isso acontece se o paciente pertencer a um grupo de risco (gestantes, lactantes, recém-nascidos, crianças, idosos); se o problema relatado não puder ser tratado pelo farmacêutico com a utilização de MIP; se estiver ocorrendo reação adversa a outro medicamento que o paciente utiliza; se os sintomas estiverem associados a outra patologia.
b) O paciente não necessita atendimento médico. Depois de avaliar que não é necessário encaminhar o paciente para serviço médico, o farmacêutico deverá decidir se a condição do paciente não demanda medicamentos, podendo ser melhor tratada pelo uso de medidas não-farmacológicas, ou se é necessário um tratamento medicamentoso, no qual o paciente pode ser beneficiado com o uso de MIP, seguros e eficazes.
Nesse último caso, cabe ao farmacêutico selecionar medicamentos que não necessitem de prescrição.
Na dispensação dos MIP, é essencial que o usuário receba orientações a respeito dos seguintes aspectos:
- Administração (como, quando, quanto) e modo de ação do(s) medicamento(s);
- Duração do tratamento;
- Possíveis reações adversas, contraindicações e interações com outros medicamentos e/ ou alimentos.
Compete também ao profissional orientar o paciente a recorrer ao farmacêutico e/ou ao médico caso os sintomas persistam.
Fonte: CRF/SP
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