No artigo da semana passada falamos sobre a polifarmácia e o processo de desprescrição. Embora se reconheça que a polifarmácia pode ser benéfica, ela envolve grande potencial de danos, particularmente por meio das interações medicamentosas, das reações adversas de medicamentos e da adesão inadequada por falta de conhecimento dos pacientes.
Na desprescrição é importante que o farmacêutico desenvolva uma abordagem clínica que permita a tomada de decisões bem embasadas para priorizar os medicamentos a ser mantidos ou interrompidos, a fim de maximizar os benefícios e minimizar os danos.
A Resolução 585/13 do Conselho Federal de Farmácia (CFF) reforça a importância da atuação farmacêutica. O documento diz que o farmacêutico pode “realizar intervenções farmacêuticas e emitir parecer farmacêutico a outros profissionais da área da saúde, com o propósito de auxiliar na seleção, adição, substituição, ajuste ou interrupção da farmacoterapia de um paciente”.
O JAMA (Journal of the American Medical Association) publicou um artigo em que propôs um protocolo de desprescrição que compreende cinco etapas:
Etapa 1 – Verificar todas as drogas que o paciente está atualmente tomando e os motivos para cada uma
- Peça aos pacientes que tragam todos os medicamentos para consulta;
- Peça que informem sobre quaisquer medicamentos regularmente prescritos que não estão sendo tomados e, em caso afirmativo, por que não (por exemplo, preço, efeitos adversos).
Etapa 2 – Considerar o risco geral de dano induzido por drogas nos indivíduos
Determinar e avaliar o risco de acordo com:
- Fatores das drogas: número de medicamentos (preditor mais importante), uso de drogas de “alto risco”, toxicidade atual ou passada;
- Fatores do paciente: idade> 80 anos, comprometimento cognitivo, comorbidades múltiplas, abuso de substâncias, prescritores múltiplos, a não-adesão passada ou atual.
Etapa 3 – Avalie cada medicamento por sua elegibilidade para ser descontinuado
Dano real ou potencial de um medicamento supera claramente qualquer benefício potencial.
Medicamento de controle de doenças e / ou sintomas é ineficaz ou os sintomas estão completamente resolvidos.
É improvável que a droga preventiva confira qualquer benefício importante para o paciente sobre a vida útil restante do paciente.
- Identificar medicamentos prescritos para um diagnósticos não confirmados;
- Identificar medicamentos prescritos para contrariar os efeitos adversos de outras drogas;
- Identificar “fármacos para evitar” em pacientes mais idosos (tratamento agressivo de HAS e DM);
- Identificar medicamentos contra-indicados em pacientes específicos (por exemplo, bloqueadores de β em um paciente com asmáticos);
- Identificar medicamentos que causam efeitos adversos bem conhecidos (por exemplo, constipação com antagonistas de cálcio)Pergunte ao paciente: “Desde que você começou este medicamento, fez uma diferença tão grande em como você sente que preferiria ficar com isso? “e considerar interromper a droga se a resposta for não ou provavelmente não;
- Pergunte: “Você ainda está com sintomas? (tosse, dor de cabeça, dispepsia, etc.)? Você sente que ainda é necessário um medicamento? “Considere suspender o uso do medicamento se a condição alvo for autolimitada, leve, intermitente ou passível de intervenções não invasivas (por exemplo, mudança na dieta, uso de álcool);
- Determine as expectativas e preferências do paciente – a qualidade de vida atual é mais importante do que o prolongamento da vida ou prevenção de futuros eventos mórbidos?Identificar medicamentos improváveis de conferir benefício durante a vida útil restante do paciente;
- Pergunte ao paciente: “Além dos efeitos colaterais, existem outras preocupações que você tem com seus medicamentos?” Identificar medicamentos particularmente difíceis (por exemplo, dificuldade em deglutição de comprimidos grandes, alto custo, requisitos de monitoramento [como varfarina sódica]).
Etapa 4 – Priorizar drogas para descontinuação
Decidir a ordem de descontinuação de drogas pode depender da integração de 3 critérios pragmáticos:
- (1) aqueles com maior prejuízo e menor benefício;
- (2) as mais fáceis de descontinuar, ou seja, a menor probabilidade de reações de abstinência ou recuperação da doença;
- (3) aqueles que o paciente está mais disposto a descontinuar primeiro.
Etapa 5 – Monitorar drogas e regime de descontinuação
- Cessar 1 droga por vez, de modo que os danos e benefícios possam ser atribuídos a medicamentos específicos e corrigidos (se necessário);
- Comunicar planos e contingências a todos os profissionais de saúde e outras partes relevantes (cuidadores, familiares) envolvidos em cuidado do paciente;
- Documentar completamente os motivos e os resultados de desprescrever.
Este protocolo de desprescrição é extremamente importante e, apresenta como essência, ouvir o paciente falar sobre sua experiência diária com as medicações. A escuta atenta, certamente, é a principal arma para uma desprescrição eficaz e segura.
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